“A gente mata para chamar a atenção. Se ninguém resolve, o jeito é continuar matando”: José Ramiro, um dos líderes da rebelião em Pinheiro

Delegacia superlotada em Pinheiro / Foto: Douglas Junior

Por Saulo Maclean

, enviado a Pinheiro

A Polícia Civil identificou ontem os dois detentos que lideraram a sangrenta rebelião na carceragem da Delegacia Regional de Pinheiro, iniciada na noite de segunda e encerada na tarde de terça-feira, 8, na qual seis presos foram brutalmente assassinados, quatro deles decapitados. Segundo a delegada Laura Amélia Barbosa, titular da regional, a barbárie foi promovida pelos assaltantes José Ramiro Moreira Araújo, o

Ramiro

, de 18 anos, e Nilton Carlos Brito, de 21, que ocupavam a cela 5 da unidade. José Ramiro teria participado da maior rebelião de Pedrinhas, em novembro do ano passado, que terminou com 18 presos assassinados.

“São dois criminosos que, apesar de bastante jovens, são de alta periculosidade e baderneiros. Eles participaram da última rebelião promovida nesta delegacia, em maio do ano passado, quanto grande parte da carceragem foi destruída. Na época, eles já reclamavam da superlotação, e reivindicavam transferências para unidades mais próximas de suas cidades de origem. No caso do José Ramiro, ele estava em Pedrinhas e foi transferido para Pinheiro logo após a rebelião que terminou com 18 presos mortos”, disse a delegada.

Mortos – As vítimas da rebelião foram os presos Jorge Luis de Sousa Moraes, de 19 anos; Raimundo Nonato Soares Mendes, o Pampo, de 28 anos, assassinados a golpes de chuço, Paulo Sérgio Cunha Pavão, de 40 anos, Alexsandro De Jesus Costa Pereira, de 28, José Ivaldo Brito, de 50 anos, e o lavrador José Agostinho Bispo Pereira, de 55 anos, condenado a 63 anos de prisão em dezembro de 2010 por ter abusado sexualmente de duas filhas e ter tido com elas oito filhos. Os quatro últimos foram decapitados e a cabeça de José Agostinho, o Monstro de Pinheiro, como ficou conhecido, foi pendurada na grade.

 ABRINDO O JOGO     –    José Ramiro Moreira Araújo

 Enquanto esteve na carceragem da Delegacia Regional de Pinheiro, O Estado pode conversar com os presos que lideraram a rebelião. Ainda bastante revoltado com a superlotação nas celas da unidade, o assaltante José Ramiro Moreira Araújo desabafou, e disse o porquê de os detentos terem resolvido matar os colegas de cela para chamar a atenção para as reivindicações.

José Ramiro / Foto: Douglas Junior

 

 O Estado – Por que tirar a vida de quem não estava diretamente exigindo melhorias na carceragem?

José Ramiro Moreira Araújo – Assim como existe uma lei, aí fora, que nos colocou atrás das grades, aqui dentro da cadeia também tem. Não aceitamos estupradores, pedófilos e homem que se diz homem e tem coragem de bater na cara de mulher. Se alguém tem que morrer por algum motivo, estes são os primeiros da fila.

O Estado – O que particularmente te levou a promover essa rebelião?

Ramiro – Da mesma forma que muitos colegas aqui, eu sou um preso temporário. O certo era eu ter ficado aqui dentro apenas por cinco meses, mas já estou há nove, e em vez de me conceder a liberdade condicional, a Justiça prefere me deixar aqui, para ficar amontoado com outros que já estão há seis anos na mesma situação.

O Estado – Em maio do ano passado, esta delegacia foi parcialmente destruída durante uma rebelião. Por que desta vez vocês resolveram matar?

Ramiro – Agente poderia quebrar tudo de novo, mas a única coisa que ia mudar realmente seria a pintura das paredes. Ninguém resolveria o nosso problema. Então, a gente mata para ver se consegue chamar a atenção. Se ninguém resolver, o jeito é continuar matando.

O Estado – O que mais incomoda vocês no dia-a-dia da cadeia?

Ramiro – Tudo incomoda. Aqui, as celas que deveriam comportar cinco presos, estão com mais de 30. Não temos espaço sequer para deitar e dormir. Quando agente vem para o banho de sol, é um alívio, porque dá pelo menos para esticar as pernas. Aqui, nem sei o que é pior: a água que se bebe ou a que se banha.

O Estado – Qual o local ideal para vocês cumprir pena?

Ramiro – Perto das nossas famílias e bem longe da capital. Lá ninguém gosta dos presos da Baixada. Se insistirem em mandar agente para lá, mais cabeças vão rolar, infelizmente.

One comment

  1. Presenciei as cenas ocorridas que foram registradas e disponibilizadas no youtube. Infelizmente é uma situação constrangedora, que aparentemente ocorreram somente morte de detentos nas selas. Devido a um excelente trabalho dos policiais, não ocorreu um numero maior de mortos. No entanto isso pode refletir para novos acontecimentos. Como todos nós seres humanos merecemos um tratamento digno. Se eles cometeram um erro, eles continuam sendo seres humanos, devendo tão somente pagar pelos crimes que cometeram. Porém o Estado deve dar suporte, para que os detentos possam cumprir suas penas refletindo seus erros em um sistema de recuperação digno. A população pode estar interagindo juntamente com a justiça verificando os tratamentos dos detentos. Pois no dia de amanhã não se sabe quem pode estar preso, pode ser um filho de um deputado, de um senador, ou até mesmo um parente de quem esta lendo esta mensagem. Aqueles que elaboram a lei, deve se ater quanto a sua aplicabilidade para evitar certos constrangimento como esse. Uma lei é elaborada visando a sociedade e não apenas aqueles crimes que repercutem na imprensa. A atitude dos detentos foi reprovada. Porém nós do povo devemos cobrar de nossos representantes uma atitude para sanar todos esses conflitos e que o Brasil consiga colocar totalmente em vigor o texto constitucional, através de uma politica digna e de qualidade, nós devemos acreditar e cobrar. Pois o que esta em jogo é o nosso País.

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