Guerra de bandidos

Pedrinhas mortesO Maranhão foi ontem surpreendido por uma situação de violência e caos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Inicialmente, correu a informação de que seria uma rebelião de presos por supostas más condições de funcionamento do presídio, versão que não se sustentou. Em seguida, a verdade se impôs e os cidadãos maranhenses souberam, perplexos, que celas e corredores de parte de Pedrinhas foram transformados em campo de uma guerra sangrenta entre quadrilhas que se batem, com violência extrema, pelo controle do tráfico de drogas na região metropolitana de São Luís.

No conflito de ontem, três detentos foram assassinados de maneira brutal – um deles foi decapitado – e vários ficaram feridos, segundo informação oficial da direção do presídio. Essa brutalidade, na explicação da Secretaria de Justiça e Administração Penitenciária, é mais um resultado de uma disputa entre das quadrilhas apelidadas “Primeiro Comando do Maranhão”, cujas raízes estariam na Vila Conceição e imediações, e “Bonde dos 40”, originada de pequenas gangues da área da Fé em Deus e que se espraiou por alguns bairros. As duas quadrilhas evoluíram da delinquência comum, dos pequenos delitos, para o mundo violento e implacável do tráfico de drogas.

Alguns poderão supor que a versão da guerra de quadrilhas seja uma estratégia para desviar a atenção dos problemas que afetam o sistema penitenciário maranhense. Mas não é o caso. O que aconteceu em Pedrinhas ontem é, de fato, a guerra que se repete em todas as grandes e médias cidades do Brasil e do continente. Ela se acirrou com a entrada do crack, uma droga mais forte e mais barata, que levou ao vício milhares e milhares de pessoas e numa velocidade espantosa, nas mais diferentes regiões do país, alcançando os pequenos municípios. As quadrilhas que controlam o tráfico na Capital são também responsáveis pela distribuição de drogas, notadamente o crack.

De uns anos para cá, São Luís começou, infelizmente, a conviver com uma informação quase que cotidiana: a execução de pessoas ligadas ao tráfico. O cenário é sempre o mesmo: matadores usando motocicletas disparam fortes cargas de munição contra adversários na guerra do tráfico. Esses assassinatos têm todas as características de ato premeditado, planejado e executado com frieza de pistoleiro profissional. Não há como prever tais casos e adotar medidas preventivas. Os envolvidos – mandantes, executores e vítimas – não se expõem e obviamente não pedem garantias de vida. Mesmo quando presos, fazem questão de alimentar a guerra, já que alguns dos chefões estão atrás das grades.

O que aconteceu ontem foi nada mais nada menos que a extensão de uma guerra que está sendo travada nas áreas periféricas de São Luís. Nessas áreas, as quadrilhas que controlam o tráfico se batem por espaço, tentam ampliar seus domínios, e para isso não medem esforços nem consequências. O meio mais viável é a violência brutal, que tem como foco principal eliminar a concorrência, que também usa o mesmo expediente. Daí o caráter de guerra que a disputa pelo controle do tráfico ganhou em todo o país, principalmente nos grandes centros.

O Governo do Estado tem usado todos os recursos ao seu alcance para enfrentar esse problema, que tem imposto desafios a todos os governos estaduais e, também, ao Governo Federal, a quem cabe vigiar as fronteiras para impedir a entrada de drogas e armas em território nacional. São visíveis os investimentos possíveis na estrutura do Sistema Estadual de Segurança Pública, com o crescente aparelhamento das Polícias Civil e Militar e na estrutura carcerária. Episódios como o de ontem em Pedrinhas, vale repetir, são planejados e premeditados, com as quadrilhas tentando demonstrar força e criar instabilidade no Sistema de Segurança Pública. Causaram o trauma momentâneo e preocupações na sociedade, mas não mudaram o entendimento de que se trata de uma guerra entre bandidos. Nada mais.

Editorial de O Estado do Maranhão

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