A dialética do governo

Flávio Dino é governador do Maranhão
Flávio Dino é governador do Maranhão

O começo, a verdadeira inauguração de um mandato eletivo, é sempre o maior dos desafios para um governante. Para qualquer governante. Mas não para alguém que, entoando o canto da mudança, assumiu o governo do Maranhão como senhor absoluto do conhecimento sobre a realidade do estado.

Pelo menos não deveria ser desafio tão grande assim, afinal Flávio Dino convenceu quase 2 milhões de eleitores de que teria no bolso a receita e o remédio certos para todos os males do Maranhão.

Pouco mais de um mês após a posse, e agora efetivamente a par de como funciona a engrenagem do serviço público estadual, Flávio Dino já emite os primeiros sinais de fadiga no cargo de governador dos maranhenses. As estatísticas alardeadas no palanque eleitoral não batem com as informações encontradas no Palácio dos Leões; o Maranhão desenhado na apostila do candidato não é o mesmo estado que ocupa diariamente a agenda do governador; a folha curricular dos assessores nomeados é infinitamente menor que a ânsia pelo empreguismo de apaniguados; as ações ainda não conseguem sobrepor­se à burocracia da máquina.

Ou seja, discursar é algo muito mais fácil.

O que se viu nos primeiros dias de mandato? Um governador em crise pessoal com a dialética entre o falar e do que fazer. Flávio Dino governou o seu primeiro mês como um velho pregador preso ao claustro das promessas divinas. Será assim o governo até os seus últimos dias? Os maranhenses esperam que não.

Apesar do curto período, há um rastro de administração atabalhoada. A cruzada insana do governo contra o acervo da Fundação da Memória Republicana converteu­se em patrulhamento ideológico de um bem cultural brasileiro, algo comparável às práticas mais espúrias da Idade Média. O truque no portal da transparência, em janeiro, para escamotear o Diário Oficial e outras informações de caráter financeiro do governo denota uma combinação de amadorismo com desrespeito ao cidadão.

A camuflagem, também em janeiro, do elevado número de homicídios no portal da Secretaria de Segurança soou como mais uma estratégia extravagante do governo. A crise política instaurada nos corredores da Secretaria de Cultura, a farra de nomeações de parentes de aliados nos altos cargos no governo e, o que é mais grave, o mais profundo silêncio do governador ante o anunciado fim da refinaria da Petrobras no Maranhão são fatos que corroboram para o embrião da desconfiança que toma conta do sonho dos maranhenses.

Não sabe Flávio Dino que o povo do Maranhão tem em mãos uma hipoteca de curtíssimo prazo. Não se cobra aqui do governador reformas estruturantes, grandes obras de impacto ou medidas espetaculares. Ainda é muito cedo para isso. Estamos apenas no início do segundo mês de mandato. Mas não se pode começar errando ou batendo cabeça na administração. Há um antigo provérbio segundo o qual “quando o começo é ruim, desastroso será o fim”.

No caso do Maranhão, é possível mudar o caminho no começo da caminhada. Basta desmontar o palanque. E trabalhar!

Editorial de capa de O Estado do Maranhão

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