A tristeza pela morte e o desespero por nunca ter nascido

perguntaLinhares Júnior – Dizem que uma vida mal vivida é um desalento. Outros preferem achar que vidas desperdiçadas costumam ser punidas com o purgatório ou com o inferno. Bem, eu concordo plenamente. Mas, pior que a vida mal vivida ou a frustração pelo passamento é a inexistência do que seria, a lembrança do que nunca foi ou a promessa que nunca passará do estado de mentira.

O ciclo da vida se repete com início, meio e fim. Essa é a realidade óbvia que mentes obscurecidas pela pequenez imposta por circunstâncias do mundo não percebem. É a vida que segue, é a vida que para.

E os impropérios? Bem, destes é que o mundo precisa se livrar. Não de vidas já vividas e realidades já realizadas.

Nada mais degradante do que aquele que nunca foi caçoando do que está existiu. Nada mais degradante do que aquela esperança de realidade se transformando em uma patologia virtual como tantas outras.

A necessidade de se impor um lado em uma luta em que todos os lados derivam da mesma matriz, a mesquinha obrigação de agrilhoar o presente e condenar o futuro sob o argumento débil do passado acabar eclipsando os ídolos antes fora de toda essa lama. A que ponto chegamos… eu perdi um ídolo.

E eu me lembro de quando criança lutar a mesma luta, de esperar pela mesma utopia, de batalhar momento a momento pela tal transmutação de valores. Crianças amadurecem e começam a perceber as mentiras que adultos contam. Isso é normal, natural. Isso é saudável até.

Custoso é ver adultos antes tão sóbrios, apesar da limitação mundana isso não perceber, vestindo os uniformes rubros das mentiras óbvias que destroem o futuro com a desculpa imunda de não serem o passado.

Bigodes nascem, crescem e são cortados. Enfim, bigodes existem. Uns gostam, outros não. Eles existem e não há como negar. Você apenas opina sobre os efeitos.

Contudo, defender a magreza do gorduroso não é mera questão de opinião. Afirmar que os gulosos são comedidos muito menos. E deixar de ser um espírito livre para ser livre como um táxi então é o fim da picada.

Comemorar ou lamentar a morte de algo faz parte de um estado de coisas saudável em que vangloriar-se pelo fim do que ainda existe apenas como patologia gerada pelo fim do ídolo e pela embriaguez do vestígio que sobrou.

Isso que você diz que morreu, bem ou mal, pelo menos existiu.

Isso que você diz que nasceu, lamentavelmente, foi abortado antes da inseminação.

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