Carlos Berg: na primeira prateleira…

Certo dia li que um homem precisa viver para um propósito maior do que ele próprio.

Quanta verdade numa construção tão curta e tão profunda ao mesmo tempo.

Afinal, viver para um propósito maior é ao mesmo tempo abrir mão da nossa pequenez, do nosso egoísmo, e de nossos próprios termos.

Mas daí angústia e aflição de muitos: como se dedicar a um propósito maior?

Se é maior, vai nos consumir, nos cansar, por vezes nos abater, vai nos desgastar. É inevitável.

Berg, nas palavras de sua doce irmãzinha Karla – e em um dos momentos mais dolorosos pelo qual já passamos -, impressionava a todos: “Berg sempre foi muito precoce”.

Refleti sobre isso. Verdade.

Berg parece ter entendido e se percebido no meio desse dilema, bem cedo.

Afinal, é preciso ter coragem para, ainda jovem, colocar um violão nas costas, carregar os seus rabiscos com algumas letras e cifras no bolso, e aventurar-se única e exclusivamente no mundo das artes, tão cruel, injusto e desafiador, sobretudo em nosso estado.

Se num bar com um modesto público, ao mais belo teatro da cidade ou ao mais pomposo palco do estado, lotado de espectadores, Berg jamais desistiu de cantar e encantar.

Sorriu, brincou, trabalhou. E como trabalhou.

Se tornou um excelente instrumentista e um excepcional artista, reconhecido, amado, querido, benquisto.

Compositor e cantor de músicas marcantes. Gravadas, regravadas e cantadas por tantos outros artistas de menor ou de maior expressão.

Ouvi de sua outra doce irmãzinha, Raquel: “Ele nasceu para isso. E venceu!”.

Do meu doce primo, irmão caçula do artista, Maurício: “ninguém mais vai cantar para a gente como Berg cantava. Cada um deixa uma marca, e a marca dele era essa”.

No particular, no seio da família, existia um Berg que pouca gente teve acesso. E agradeço muito ao Pai por ter sido um dos poucos privilegiados nesse convívio.

Em casa Berg era enérgico, sorridente, positivo, e ao mesmo tempo molinho de coração. Ele chorava ao declarar-se ao seu avô e à sua mãe.

Chorava de emoção ao olhar para os filhos e ver o quão abençoado ele foi.

E sorria sempre que cada rostinho de mesmo sangue chegava à porta. Gritava de entusiasmo, tinha o dom de juntar todo mundo e celebrar alguma coisa.

Grandão, carinhoso.

Percebi ao longo dos anos que, mesmo que com compromissos inadiáveis, ele fazia questão de passar pelo menos alguns minutinhos com os seus, nas comemorações de família.

Tratava-se de um valor inegociável para Berg. Valor nobre.

Um exemplo para o egoísmo que as vezes nos consome, quando estamos cansados da rotina, do trabalho, do dia-a-dia.

Berg era presente. Mesmo cansado. Ele era presente, mesmo “entupido” de trabalho.

Ele era muito da gente.

Nosso Berg se foi. Com fé, acredito que Deus o recolheu.

A sua obra fica aqui, para ser apreciada e lembrada por todos.

Berg, artista de primeira prateleira da cultura maranhense, ocupa também a primeira prateleira em nossos corações.

Guardaremos com carinho cada lembrança. E seremos sempre gratos a Deus por nos ter presenteado por todo esse tempo ao lado dele.

Que privilégio. Que honra.

E que saudade…

4 comments

  1. 😭😭😭😭 que lindo que sensível, é isso,
    Como vamos sentir falta, ao mesmo tempo
    O conforto de seu legado te amo pra todo sempre meu primo querido Berg 💔🖤

  2. Primo, que linda e justa homenagem.
    Ele foi, exatamente, esse ser humano. Iluminado, justo, generoso e sapeca.
    Mega orgulhoso e apaixonado pelas suas raízes.
    Sinto-me honrada por ter tido a oportunidade de viver com ele e conviver com toda a família.

  3. Texto maravilhoso Ronaldo Rocha, nós como parentes, que convivemos com o Berg pessoa e artista somos realmente honrados. Obrigado por nos relembrar que não devemos jamais nos esquecer de guardar seu legado.

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